1 A humanidade parece estar em queda livre. Nas últimas décadas, o pessimismo tomou conta das sociedades ao redor do mundo, e o otimismo que outrora guiava as nações progressistas parece ter dado lugar ao desespero, à hostilidade e à agressividade. Vivemos tempos em que a esperança é um artigo raro e o medo se tornou uma constante nas relações sociais e políticas. O que torna esse cenário ainda mais preocupante é a velocidade com que essa transformação ocorre – uma descida vertiginosa que nos impulsiona para uma era cada vez mais sombria.
2 O conceito de liberdade, outrora inquestionável em muitas partes do mundo, está agora em xeque. Não se trata apenas de governos autoritários ou censura estatal explícita; a liberdade está sendo corroída por dentro, pelas ansiedades que consumem o tecido social, pelas grades que se erguem nos estabelecimentos, pelas câmeras que monitoram cada movimento. A realidade distópica, que antes era tema de ficção, agora está presente nas ruas de qualquer cidade. A presença constante de cercas e sistemas de vigilância em países desenvolvidos, até mesmo em cidades pequenas e pacatas, é um reflexo claro desse estado de alerta permanente. A confiança no outro se esvaiu, e a sensação de segurança deixou de ser um direito básico para se tornar um privilégio raro.
3 As ruas e praças que um dia foram espaços de convivência e lazer são agora territórios dominados pelo crime, pela marginalização e pela presença sufocante de um sistema econômico que aprofunda desigualdades. Não são mais as crianças que correm despreocupadas nos parques, mas o tráfico de drogas e a violência organizada que ocupam o lugar que antes era dedicado à convivência pacífica. Esse cenário, antes restrito às periferias, agora se expande para o mundo inteiro. A fragmentação social, que antes era vista como uma consequência de desigualdades locais, hoje se espalha como uma praga global.
4 Estamos, de fato, em um ponto de inflexão. O otimismo do pós-guerra, que prometia progresso, direitos humanos e desenvolvimento sustentável, foi soterrado pelas crises climáticas, políticas e sociais que se acumulam diante de nós. O que se percebe agora é o início de uma nova era, uma era sombria, onde a incerteza e o medo ditam as diretrizes dos Estados e das sociedades.
5 A questão aqui não é uma mera profecia pessimista. Basta olhar ao redor: as evidências estão por toda parte. A crise de refugiados, os conflitos armados, a polarização política e a emergência de regimes autoritários são sinais claros de que as instituições que sustentavam a ordem global estão ruindo. Não é necessário ser filósofo para enxergar essa realidade; ela se desenrola diante dos nossos olhos a cada dia.
6 E assim, chegamos ao momento crucial. O recente encontro das Nações Unidas, em 23 de setembro de 2024, pode ser visto como o ponto de partida para uma nova ordem mundial. Os discursos inflamados e as promessas de cooperação internacional, tão características dessas reuniões, parecem agora vazios diante das crises incontroláveis que as nações enfrentam. Não há mais retórica que apazigue a tempestade que se forma no horizonte. As ações são lentas e insuficientes, e as consequências, implacáveis.
7 Neste cenário, o que resta à humanidade? O que resta às pessoas que assistem a esse colapso progressivo e veloz? A busca por abrigos seguros – lugares onde ainda se possa encontrar resquícios de esperança e solidariedade – se torna uma necessidade urgente. Mas será que esses espaços ainda existem? Ou estamos condenados a presenciar, impotentes, o colapso de tudo aquilo que considerávamos inabalável?
8 A queda livre da humanidade nos desafia a refletir sobre as escolhas que fizemos e as direções que seguimos. Estamos diante de uma encruzilhada, onde o caminho que tomaremos determinará se seremos capazes de reconstruir, ou se sucumbiremos definitivamente a uma era de trevas. A resposta está em nossas mãos, mas o tempo para agir está se esgotando.
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