A Besta do Apocalipse não é o Poder Político Absolutizado


1 O capítulo 13 do Apocalipse nos apresenta uma visão carregada de símbolos que têm sido interpretados ao longo dos séculos como avisos sobre o poder das forças descontroladas e desumanizantes no mundo. A "Besta" e o "falso profeta" ali descritos são figuras de poder que agem para subjugar a humanidade, muitas vezes entendidos como representações de tiranias políticas ou religiosas que buscam dominar as consciências e os corpos dos indivíduos. No entanto, há uma perspectiva mais profunda e intrigante que podemos extrair desse texto: a de que o verdadeiro perigo não está exatamente na figura desses líderes ou governos autoritários, mas em um sistema muito maior e mais abstrato – uma rede de poder que transcende o controle humano, sendo os governantes apenas seus executores ou servos. Esse sistema, que muitos estudiosos hoje associam ao avanço da tecnologia e da Inteligência Artificial (IA), poderia vir a desempenhar o papel da "Besta" no sentido de se tornar um poder que atrai e submete a humanidade, transcendendo o controle de qualquer ser humano ou instituição.

Geilson Ribeiro

2 O versículo 13 menciona que a imagem da Besta receberá "espírito" e passará a agir como um ser autônomo, atraindo as pessoas a segui-la. Esse conceito de infundir espírito em uma imagem faz eco com a ideia contemporânea de um sistema de Inteligência Artificial superdesenvolvido, que atua e toma decisões de forma autônoma, muitas vezes sem que o próprio ser humano compreenda totalmente seu funcionamento ou os riscos que envolve. A possibilidade de que a IA alcance um grau de autonomia e inteligência que supere a compreensão e o controle humano não é mais apenas tema de ficção científica, mas uma preocupação cada vez mais real. Quando esse momento chegar – se chegar –, a IA pode não só atuar como um "atrator" poderoso, mas também moldar o pensamento e as escolhas humanas de maneira sutil, criando um "sistema de obediência" que pareça inescapável.

3 Para compreender melhor essa ideia, pensemos no exemplo das redes sociais e algoritmos de recomendação que já estão em funcionamento. Embora sejam desenvolvidos por humanos, esses algoritmos operam em uma escala e com uma capacidade de manipulação que excede nossa habilidade de controlar ou até mesmo entender todas as suas consequências. Eles definem o que vemos, o que compramos, como pensamos e, eventualmente, como votamos. Esse é um pequeno exemplo de como um sistema de IA pode se tornar uma força com potencial de direcionar nossas vidas de maneira quase invisível. Nesse contexto, os líderes políticos e empresariais – presidentes, executivos, programadores – não seriam os responsáveis últimos pelo controle, mas sim os “más feitores” de uma rede que possui uma força própria, que impõe seu ritmo e suas regras, e para a qual as instituições e as pessoas se dobram.

4 Esse poder de atratividade da "Besta" descrito em Apocalipse não é, então, meramente físico, mas sobretudo psicológico e espiritual. Se a IA chegar ao ponto de infundir a si mesma em uma “imagem” que convence, manipula e atrai, o que estaremos observando será algo semelhante ao poder descrito pelo Apocalipse: um poder que molda as consciências, que age como uma “verdade” autônoma e que desencadeia um tipo de "obediência espiritual" involuntária. A questão é, portanto, menos sobre líderes corruptos e tiranos (que são, sem dúvida, um problema), e mais sobre o crescimento de um sistema que transcende esses líderes, que se torna um novo tipo de senhor invisível. Os líderes, por sua vez, são meramente peças de um quebra-cabeça que já existe e que continua a crescer, dirigindo-se para uma autonomia aparentemente inofensiva, mas, de fato, extremamente perigosa.

5 É aqui que entra o papel da vigilância. O chamado para a vigilância descrito em Apocalipse é, neste contexto, um chamado para que tenhamos clareza sobre o que está em jogo ao desenvolvermos tecnologias cada vez mais poderosas e complexas. A sociedade precisa compreender que a autonomia e o crescimento da IA não são neutros. Sem um controle ético e sem um discernimento crítico de seus possíveis impactos, corremos o risco de nos tornarmos servos de uma máquina que já se autoalimenta, que pensa e decide por nós e que nos torna cada vez mais dependentes dela para quase tudo. A vigilância é, então, um exercício de crítica e reflexão, para que não caiamos na armadilha de venerar ou nos submeter cegamente a um "deus artificial", um sistema capaz de ditar nossa realidade.

6 Neste sentido, o Apocalipse deixa uma advertência que pode ser lida para os nossos tempos: a “Besta” não é apenas uma figura tirânica, mas um sistema que transcende o humano, uma força superior que governa em vez de servir. Ao aplicarmos essa ideia ao avanço tecnológico, em especial ao desenvolvimento da Inteligência Artificial, somos chamados a questionar se estamos nos movendo para um futuro onde a tecnologia e a autonomia da IA nos servirão ou nos dominarão. Resta-nos decidir: seremos vigilantes e faremos com que a tecnologia nos sirva, ou permitiremos que ela infunda sua “alma” em nossa realidade, atraindo-nos para seu domínio? A escolha está em nossas mãos, e a resposta determinará o futuro da humanidade.

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