Resumo da Suma Teológica – Vol. II (Questões 44–119) – São Tomás de Aquino


O volume II da Suma Teológica de São Tomás de Aquino, na sua versão bilíngue (latim-português) e encadernada em capa dura, contempla a segunda parte da Prima Pars (Primeira Parte), englobando as Questões 44 a 119. Trata-se de uma das seções mais densas e fundamentais da obra, onde o Doutor Angélico aprofunda os mistérios da criação, da alma humana e da providência divina. Este volume representa uma continuidade natural da investigação teológica iniciada nas primeiras 43 questões, centradas na existência e natureza de Deus, e agora se volta para a origem de todas as coisas criadas e sua relação com o Criador.

Criação e Origem das Coisas (Questões 44–49)


A partir da Questão 44, Tomás aborda a criação ex nihilo, ou seja, do nada. Ele defende que todas as coisas procedem de Deus como causa primeira, e não como emanações necessárias, como afirmavam certos filósofos neoplatônicos. Para Tomás, Deus cria por um ato livre de vontade, sendo a causa eficiente, exemplar e final de todas as coisas. Nesta parte, ele também distingue entre criação, geração e formação, deixando claro que criar implica dar o ser a partir do nada, o que é exclusivo de Deus.

As questões seguintes tratam do modo como os seres procedem de Deus. A Questão 45 examina a produção das coisas na pluralidade, enquanto a 46 discute a origem temporal do mundo. Aqui, Tomás recorre à autoridade de Santo Agostinho e ensina que a criação do mundo no tempo é um dado revelado, embora a razão humana por si não possa demonstrar se o mundo teve começo ou não.

Nas Questões 47 a 49, o enfoque se volta para a multiplicidade das criaturas e o problema do mal. Aquino defende que a variedade no universo é desejada por Deus, pois a perfeição do conjunto só é atingida por meio da diversidade. Quanto ao mal, ele afirma que não possui existência própria, sendo a privação do bem devido, e que Deus o permite em vista de um bem maior.

Anjos e Substâncias Imateriais (Questões 50–64)

Nas Questões 50 a 64, São Tomás mergulha na natureza dos anjos, denominados também de substâncias intelectuais separadas. Ele discute sua incorporeidade, sua imortalidade, sua inteligência pura e o modo como interagem com o mundo sensível. Tomás também se detém sobre a hierarquia angélica e a missão dos anjos bons e maus.

A questão do pecado dos anjos (especialmente o orgulho de Lúcifer) é tratada com profundidade, sendo ressaltada a escolha irreversível que esses seres fizeram no início de sua existência. A partir disso, a doutrina da queda dos anjos e sua condenação eterna ganha estrutura teológica rigorosa.

O Universo Material e os Corpos Celestes (Questões 65–74)

Tomás dedica um conjunto de questões à constituição do universo visível. Ele comenta sobre a criação das criaturas corpóreas, especialmente os elementos e os corpos celestes. A influência da cosmologia aristotélica é perceptível, mas ela é cristianizada, sendo subordinada à teologia cristã da criação.

A Questão 74 conclui o comentário sobre os seis dias da criação (Hexaëmeron), em que Tomás busca reconciliar o relato do Gênesis com os princípios da razão e da ciência natural de sua época. Ele não lê os “dias” de forma necessariamente literal, mas sim como estágios da obra criadora de Deus.

A Alma Humana (Questões 75–89)

Estas questões representam uma das seções mais importantes da obra, por tratarem da antropologia filosófico-teológica tomista. A partir da Questão 75, São Tomás analisa a alma humana como forma substancial do corpo. Ele sustenta a unidade substancial do ser humano, contrapondo-se ao dualismo platônico. Para Tomás, o homem é um composto de corpo e alma, e a alma racional é espiritual, imortal e individual.

As subsequentes questões abordam as potências da alma, suas operações e sua relação com o corpo. Aquino distingue entre intelecto agente e intelecto possível, entre vontade e apetite sensível, e oferece uma das mais sofisticadas descrições da psicologia humana medieval. Ele também discute temas como a origem da alma, a sua multiplicidade entre os indivíduos e o modo como conhece.

A Questão 89 trata da alma separada, isto é, da alma após a morte. Tomás defende que ela continua a existir, retém sua identidade, e pode conhecer, ainda que de modo diferente, pois não está mais unida ao corpo.

A Origem do Homem e da Mulher (Questões 90–102)

Aqui, São Tomás discorre sobre a criação do ser humano. A Questão 90 trata da criação da alma do primeiro homem. Em seguida, ele examina a produção do corpo (Questão 91) e, notoriamente, a criação da mulher (Questão 92), em que afirma que a mulher foi feita a partir do homem, conforme o relato bíblico, não como defeito, mas como auxiliar adequada.

Tomás discute também o estado de inocência (antes do pecado original), as condições da vida no paraíso e a harmonia das paixões com a razão que reinava naquele tempo.

A Providência, o Governo Divino e os Milagres (Questões 103–119)

A última parte deste volume é dedicada à teologia da providência divina e do governo do mundo por Deus. Tomás afirma que Deus dirige todas as coisas com sabedoria e justiça, permitindo o mal apenas se dele pode tirar um bem maior. Ele defende a conciliação entre liberdade humana e predestinação divina, uma das tensões mais notórias da teologia cristã.

Há uma exposição clara da distinção entre ação divina ordinária (governo providencial) e ação extraordinária (milagres), além da colaboração das causas segundas no plano divino. Aquino sustenta que os milagres não são violações da natureza, mas ações de Deus que excedem a capacidade das causas naturais.

As Questões finais abordam ainda os atos divinos na conservação e no movimento das coisas, inclusive a maneira como Deus pode agir nos corações dos homens sem anular sua liberdade.


Importância do Volume II

Este segundo volume da Suma Teológica é essencial para compreender a visão medieval cristã do mundo, do homem e de Deus. A filosofia tomista se caracteriza por uma profunda integração entre fé e razão, entre teologia e filosofia, entre a revelação e o mundo natural. É um testemunho da tentativa grandiosa de se construir uma síntese racional da realidade à luz da fé cristã.

O estilo de Tomás é metódico: cada questão é dividida em artigos, que por sua vez são estruturados com objeções, argumento principal (o famoso sed contra), resposta (o corpus da doutrina) e réplicas às objeções. Essa estrutura permite não apenas a exposição do pensamento do autor, mas o diálogo com outras posições filosóficas e teológicas, mostrando a riqueza do debate intelectual do século XIII.

A edição bilíngue facilita o acesso tanto ao texto original em latim quanto à tradução precisa, sendo ideal para estudantes de teologia, filosofia e interessados no pensamento cristão clássico.

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